A Biblioteca adquiriu em Dezembro uma boa quantidade de livros absolutamente imperdíveis. Deles falaremos em breve. Por hoje, vamos apenas falar da série policial Millenium. O primeiro livro do jornalista sueco Stieg Larsson (1954-2004), intitulado Os homens que odeiam as mulheres, é hipnótico. Trata-se de um extenso volume em que, paralelamente à intriga policial, se criticam algumas formas de jornalismo financeiro, o que, nos tempos que correm, nos toca particularmente. Este volume, publicado em 2005, demonstra (ficcionalmente...) como os dados económicos podem ser manipulados em prol de interesses obscuros. Contudo, este é apenas um dos aspectos de uma obra atravessada por várias temáticas. Além disso, hoje gostaríamos de destacar um aspecto interessante do segundo volume da trilogia, A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo.
Estranhamente, vamos falar de... Matemática. E porque não? A Matemática rege a nossa vida. As leis matemáticas regem o Universo (sim, a nossa linguagem carece provavelmente de rigor científico... mas à quarta-feira de manhã não está aqui na Biblioteca nenhum professor de Matemática a quem possamos colocar dúvidas. Por isso, se discordarem, enviem-nos um comentário). Mas voltemos ao nosso livro. Tal como sucedia com o anterior, também neste se entrecruzam várias temáticas, designadamente o tráfico de mulheres, a investigação criminal, a pirataria informática ou o jornalismo de investigação. Um dos fios condutores, aquele que interliga cada parte entre si, é a resolução de enigmas matemáticos. Lisbeth Salander, a hacker, é uma mente brilhante que se entretém a deslindar enigmas célebres como quem resolve um sudoku. Essa descrição inicia-se na página 28 e conclui-se, temporariamente, na página 32, sendo, no entanto, retomada ao longo da narrativa - até ao momento em que Lisbeth resolve o teorema de Fermat. Para esta jovem disfuncional, «A equação de Pitágoras (x² + y² = z²), formulada cinco séculos antes de Cristo, fora uma epifania. Neste momento, Lisbeth compreendera o significado do que decorara na escola secundária, numa das poucas aulas a que tinha assistido.» (p. 29). E, para não nos acusarem de exageros, transcrevemos o comentário à fórmula euclidiana sobre os números perfeitos pares: «Podia continuar indefinidamente sem encontrar um único número que quebrasse a regra. Havia ali uma lógica que apelava à sua noção de absoluto.»