terça-feira, 25 de setembro de 2012

O nosso livro de receitas só tem um problema...

... não se pode comprar.

No Sábado mostrei-o à minha família e toda a gente queria comprar um. Deixei-o com a minha mãe, que já experimentou a receita da Gracinda. A minha irmã já copiou a receita do bolo da paixão. A prima Ana Maria achou muita graça ao bolo de frutas de mrs. Darwin. A tia Geninha quer experimentar o bolo de nozes e a Anita já disse que ia fazer os montículos de chocolate.

No meio disto tudo, nem eu própria tenho um exemplar, porque fiz questão de dar o meu à Nilza (era o mínimo que podia fazer).

Já me lembrei de fazermos algo similar ao que - "mutatis mutandis" - fez o (Prof. doutor) Álvaro Domingues. Isto é, os interessados comprometiam-se a comprar x exemplares (um óptimo presentinho de Natal) e financiávamos previamente uma edição. Com a minha família numerosa (sou eu e o Drummond de Andrade) e os meus muitos amigos, eu sozinha asseguro um terço da tiragem...

O nosso livro de receitas...

... está encantador. Encantador, graças à Margarida, que cuidou do aspecto gráfico como a profissional e a mulher de bom gosto que é. Tem um arzinho "retro" que pede meças aos produtos comercializados pela loja Vida portuguesa. Encantador, porque reflecte a vivência, as histórias e as peripécias de 25 anos da nossa escola. Encantador, porque cada um escreveu à sua maneira uma história (uma "estória", como diz a Maria José Ribeiro) pessoal. Com estas histórias, descobrimos facetas insuspeitas dos nossos colegas. Aspectos comovedores que, de outra maneira, jamais conheceríamos (estou a lembrar-me, por exemplo, do texto da Manuela Maia).

Comunidade de leitores

Na Sexta-feira servimos o nosso combinado habitual: livro (O retorno, de Dulce Maria Cardoso)+lanche (tarte bom bocado, de Arminda Fernandes). Os leitores/comensais variaram um pouco: sentimos a falta das nossas amigas do costume, mas tivemos muito gosto em acolher a Gracinda e a Laurentina. E a Felicidade, que veio lanchar connosco.


As sessões da comunidade são sempre diferentes, mas esta foi "a mais" diferente de todas. Nós, que até somos muito bem educadas, a certa altura já estávamos a atropelar-nos umas às outras, e o tom de voz às vezes subia tanto que ressoava pela Biblioteca toda (seria uma vergonha, se não se desse o caso de quase não haver alunos). A verdade é que, em vez de escolhermos outro livro, devíamos duplicar esta sessão. Isto porque todas tínhamos uma experiência pessoal a partilhar e a confrontar. Com a Arminda a dar o enquadramento histórico, chegámos à conclusão de que se trata de uma tema directa - ou difusamente - impregnado de ideologia e muito, muito contaminado pela experiência de todos nós.

Na verdade, não fizemos uma sessão acerca do livro, usamo-lo como pretexto para nos conhecermos melhor, para conhecer histórias de vida interessantíssimas e para repensarmos alguns aspectos da nossa História.

Bem, bem - pensou a professora de Português que há em mim - era, na sequência desta sessão, fazermos uma comunidade de escrita. ESVV, histórias devida, como o nosso livrinho de receitas...

Ouve como soam nesta página...

... as promessas que me envia pela manhã...

A CHUVA NO DESERTO



Sob a indiferença e o enfado
oculta-se uma emoção por explorar.
Aí onde há roupa estendida, pratos
sujos, despertadores queixosos,
carros que nos esperam, auto-estradas
inúteis que conduzem ao trabalho,
ao choro de um telefone, aos gestos
vazios que nos estende o hábito,
também rompe o feitiço da luz,
a sua voz debaixo da pele flui devagar.
Ouve como soam nesta página
os seus corcéis de vento, as suas promessas.





Eduardo García

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Convite à comunidade escolar

Amanhã, às quinze horas, realiza-se a primeira sessão deste ano da Comunidade de leitores, com o livro O retorno, de Dulce Maria Cardoso.



Mas eu estou muito triste. A primeira, a primeiríssima pessoa a ler este livro, foi a Ana Paula Matos. Tão entusiasta foi, que eu não descansei enquanto não comprei, e li, o livro. Gostei muito. (A minha mãe gostou muito. A minha irmã gostou muito.) Pois a Ana Paula não vai poder estar durante a sessão toda. Acho mal.


Em todo o caso: estão convidados para assistir a uma sessão longamente falada e longamente preparada.

Um bom livro, com um leve aroma (para mim, depois vos direi porquê) a férias e um forte sabor a nostalgia.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Património inalienável da ESVV

 
 

Ao contrário do que é habitual, a equipa que trabalhou na nossa escola respeitou esta árvore, que se manteve impávida por entre o ruído e a azáfama das obras. Lá está, contra todas as probabilidades. Projeta, no interior do bloco, um exterior que parece ainda mais arborizado do que é. Cortá-la seria uma ingratidão para com as pessoas que trabalharam sem a danificar, configuraria uma heresia silvícola e constituiria um disparate arquitectónico.

A pequena foca da rentrée

ORGULHO

Digo-te, até as rochas se partem,
e não é por causa do tempo.
Durante anos mantêm-se deitadas de costas
no calor e no frio,
durante tantos anos
isso quase parece pacífico.
Não se mexem, por isso as fendas permanecem escondidas.
É uma espécie de orgulho.
Os anos passam sobre elas, e elas aguardam.
Seja o que for que venha despedaçá-las
ainda não chegou.
E assim o musgo cresce, as algas
chicoteiam à sua volta,
o mar avança sobre elas e retrocede -
as pedras parecem imóveis.
Até uma pequena foca vem esfregar-se contra elas,
chega e vai-se embora.
E de súbito a rocha tem uma ferida aberta.
Eu disse-te, quando as rochas se quebram, isso acontece de surpresa.
Tal como as pessoas.

Dahlia Ravikovitch em arspoetica-lp.blogspot.com/

domingo, 16 de setembro de 2012

A arte saiu à rua num dia assim

 


No entanto, esta fotografia foi tirada no interior da Fábrica Asa, em Guimarães.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Um filme imperdível, uma lição de ética

Já fui representante sindical na nossa escola e, em tempos em que a tendência é para diabolizar os sindicatos - se, ou quando, deixar de haver trabalhadores sindicalizados, estaremos totalmente à mercê - continuo a acreditar que é a pior das soluções à excepção de todas as outras.


O filme "As neves do Kilimanjaro" corresponde, ponto por ponto, a esta minha convicção. Sem maniqueísmos, mostra as dúvidas e contradições por que passam os sindicalistas e a falência de muitas das suas soluções, mas também até que ponto os jovens, que têm ideias novas, não as põem (ainda) ao serviço da colectividade.
 
 
Por razões históricas, muitos operários franceses têm uma massa crítica notável, o que mereceria um comentário, uma explicação e, talvez, um lamento. Mas hoje, precisamente hoje, queria rever este "trailer", onde o sindicalista intrepretado por Jean-Pierre Darroussin explica por que motivo não tirou da lista de despedimento o seu nome: "C'était un privilège et je n'en veux pas."






domingo, 9 de setembro de 2012

O elevado número de alunos por turma, uma avaria no elevador social



Como vai o vosso francês? Espero que bem, pois assim poderão ler um ensaio do economista Thomas Piketty acerca do impacto do elevado número de alunos por turma no insucesso escolar, no qual se demonstra de que forma os alunos mais jovens, oriundos de classes menos favorecidas, são os mais prejudicados pela adopção desse tipo de medidas.
 
Vocês já sabiam? Está bem, mas a demonstração - feita por um economista que leccionou no MIT (Massachusetts Institute of technology) entre 1993 e 1995, prosseguiu uma carreira de investigação no CNRS (Centre National pour la Recherche Scientifique) e depois na École des hautes études en sciences sociales (onde ainda trabalha), e fundou a Paris School of Economics - sempre terá algum impacto.
 
O relatório, encomendado pelo Ministério da Educação francês e elaborado em parceria com Mathieu Valdenaire, está disponível em
 

 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A angústia da rentrée

Desde o ano passado que regressar à escola implica esta angústia, este nó na garganta: quem não ficou? dou dois beijinhos (leram bem, dois. Dois é mais do que um) e nem me atrevo a perguntar: "Ficaste?"
A Cláudia vai para Melgaço. Calculamos a distância, a despesa. Pomo-nos nos sapatos da Cláudia, nos pneus da Cláudia, no carro da Cláudia. No conta-kilómetros, no depósito, na via verde, no coração da Cláudia.