quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Ler para dentro"

Quase no fim de um ano escolar em que se assistiu, na nossa escola, a uma luta entre uma concepção de Biblioteca como um local silencioso, propício ao trabalho, e uma concepção de Biblioteca como um lugar agradável para se fazer tudo (trabalhar, estudar, conversar, namorar, falar e teclar ao telemóvel, brincar com os amigos, jogar cartas...), pareceu-me interessante o início de um texto de José Mário Silva (Expresso, 26/5/2012), onde o crítico dava conta de um espectáculo de "auto-teatro" da dupla Hampton/Etchells.


«Uma biblioteca é, por definição, um espaço de silêncio. Silêncio absoluto, para que as pessoas curvadas sobre os livros possam concentrar-se. Mas se entrarmos na sala de leitura e nos sentarmos numa das mesas (atentos, quietos, com os sentidos alerta), compreendemos que talvez não seja bem assim. À nossa volta, os ruídos multiplicam-se: tosses, passos, espirros, respirações, dedos matraqueando em teclados de computador, zumbidos, objetos que caem, coisas a rasparem noutras coisas, ecos de maquinarias distantes, o troar de um avião que segue a sua rota sobre o telhado, já em descida para o aeroporto."


Leram, nesta enumeração, "gente a falar alto, risos, gargalhadas, brincadeiras"? Não leram, pois não?

Pois bem, também não é preciso zangarmo-nos (agora), porque, além da sala dos alunos e da ampliação do espaço exterior - por agora ainda cheio de tapumes - doravante haverá, nos blocos de aulas, salas amplas que poderão ser utilizadas para vários fins. E assim a Biblioteca poderá ser esse "espaço de silêncio" de que tanto precisamos pra trabalhar, para nos concentrarmos ou, simplesmente, para repousar os sentidos desgastados pelo ruído omnipresente.


 

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