quarta-feira, 18 de abril de 2012

Terapia coletiva para professores desesperados




No dia 11 veio à escola o professor universitário Carlos Gomes, que fez uma palestra subordinada ao tema "Configurações interativas na sala de aula: conflito versus cooperação".

Embora, de uma forma bastante mais "nebulosa", já tivesse pensado em tudo aquilo que foi dito, a verdade é que ouvir alguém - sobretudo alguém habilitado e credenciado, capaz de gerar empatia com o público - dizer essas coisas teve um efeito terapêutico em mim.


Falou-se do conceito de indisciplina... aliás: recusou-se o conceito de indisciplina estritamente aplicado à escola, no sentido em que se trata de um problema de formação e de educação cívica que abrange a sociedade no seu todo, e não apenas a escola. Na verdade, a escola não cria os problemas sociais, importa-os, pelo que, por si só, também não pode resolver todos os problemas que nela desaguam. As soluções são necessariamente multifuncionais (passando também pelos recursos económicos, sociais e relacionais) e o sistema educativo só pode dar o seu contributo.

 
Como?

 
Os professores de cada escola, de cada grupo disciplinar, de cada conselho de turma, devem agrupar-se em torno de consensos. De contrário, pode haver instrução, mas não haverá educação. Deverão definir-se regras que todos - mas absolutamente todos - cumpram. Assim, não haverá lugar a desatorizações e os alunos saberão com o que podem contar, não tendo de "dançar conforme a música" (uma música muito pouco harmónica, adivinha-se). O que se pretende do projeto educativo, do conjunto de docentes da escola e dos professores do conselho de turma é uma ação coerente e consistente, em torno de uma cultura comum, sem individualismo e sem protagonismos (isto já estava escrito no nosso projeto educativo, lembram-se?). A indisciplina (isto é, tudo o que não é funcional) não é um problema de cada docente, no sentido em que resulta da ausência de padrões e referências dos jovens em causa. A vantagem acrescida desta "concertação educativa", ou "pacto de regime", é que as relações de poder se alteram, deixando os alunos de poder manipular os professores.

Quanto à parte terapêutica, foi-nos dito, claramente dito, que (desde que salvaguardados os nossos deveres de professores), DEVEMOS IR PARA CASA DESCANSADOS. DEVEMOS DORMIR TRANQUILOS, SEM FICAR A MAGICAR NOS PROBLEMAS DOS ALUNOS QUE NÃO CONSEGUIMOS RESOLVER. Devemos abandonar a utopia (de que eu também comungo, digo, comunguei) de que a escola pode resolver todos os problemas da sociedade. Apesar de ser uma instituição especial (não é a praia, não é a esplanada), com regras especiais, é apenas uma das muitas instâncias sociais.

E agora, perguntar-me-ão: «Mas, e o título? porquê conflito versus cooperação? Já percebemos que deve haver cooperação entre os professores, mas, e quanto aos alunos?" De acordo com  Carlos Gomes, deve haver uma relação aberta e descontraída, dialogante, isenta de autoritarismo, mas onde os limites devem ser claramente estipulados e observados. Os professores trabalham para os alunos, estão do lado deles, e os alunos cumprem os seus deveres. Sem dramas.

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