quarta-feira, 25 de abril de 2012

Salgueiro Maia comanda...




... Francisco Sousa Tavares, de megafone, contextualiza (4:54), Sophia de Mello Breyner Andresen escreve:

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

terça-feira, 24 de abril de 2012

Um anjo caído na terra


Fotografia de Josef Koudelka/Magnum Photos

Um anjo caído da terra.
Uma vida passada.
Olhares de dor e tristeza,
Serão olhares cúmplices da mágoa?
Um clique, uma imagem,
onde apenas se refletem gestos e expressões.
Um anjo em plena "descensão".
Uma mistério arrastado.
E os animais?
Serão os animais capazes de sentir pena ?
O pequeno anjo vai,
Sozinho e triste,
como se o céu fechasse.
Olhares o observam, ela nada faz.
Reparas na senhora ?
Ele não.
Ela olha e nada faz.
Como se o anjo fosse apenas um negrume.
É dura e fria,
Frio como o vento em pleno Inverno.
Teve tudo e tu nada tiveste.
Pequeno anjo caído,
abre as tuas asas,
e deixa a mágoa voar sem ti.
Como uma noite sem lua,
onde os teus olhos refletem
a pura inocência.
Onde voas.
Apenas tu e as tuas asas.

Texto de Eva Joana Guerreiro da Silva (escrito no âmbito das Oficinas de escrita)

Oh, as árvores, as árvores



O JARDIM BOTÂNICO


No Jardim Botânico de Cracóvia
deparei-me com uma árvore Asiática
com o nome Metasequoia Chinesa – uma bela árvore
com folhas agulha achatadas.
Mas porquê metasequóia – e não apenas uma sequóia normal?



A metasequóia cresce além de si mesma?
Será que se eleva acima das outras árvores?
Até mesmo as plantas começaram a recorrer
ao misterioso jargão
de certos sábios académicos?

(Adam Zagajewski)





quarta-feira, 18 de abril de 2012

Comunidade de leitores, sessão Três


Convite
Comunidade de leitores
sessão três
Quem não se lembra de "África minha"? Quem se esqueceu do par formado por Meryl Streep e Robert Redford? Quem se esqueceu da subversão dos valores coloniais operada pela baronesa Blixen, convidada, no fim do filme, a tomar uma bebida no clube onde as mulheres nunca haviam sido admitidas? Quem se esqueceu da paridade homem-mulher que a sua vida implicou? Quem se esqueceu da frase inicial "I had a farm in Africa at the foot of the Ngong Hills..."?
Karen Blixen foi a primeira pessoa de quem ouvi dizer ter sofrido de anorexia. Será talvez por isso, pela sua atração-repulsa pela comida, que "A festa de Babet-te" - uma novela que consegue cruzar a exuberância alimentar com a austeridade dos valores mais estrita-mente protestantes, os excessos da revolução france-sa com a pacatez imutável dos fiordes noruegueses - nos fascina.
Em sua honra, a Comunidade de leitores da ESVV vai realizar a sua terceira sessão no dia
20 de abril (sexta-feira) às 20h30m no restaurante Anjo Verde, em Bra-ga (a novela está disponível na Biblioteca da escola).
 

Terapia coletiva para professores desesperados




No dia 11 veio à escola o professor universitário Carlos Gomes, que fez uma palestra subordinada ao tema "Configurações interativas na sala de aula: conflito versus cooperação".

Embora, de uma forma bastante mais "nebulosa", já tivesse pensado em tudo aquilo que foi dito, a verdade é que ouvir alguém - sobretudo alguém habilitado e credenciado, capaz de gerar empatia com o público - dizer essas coisas teve um efeito terapêutico em mim.


Falou-se do conceito de indisciplina... aliás: recusou-se o conceito de indisciplina estritamente aplicado à escola, no sentido em que se trata de um problema de formação e de educação cívica que abrange a sociedade no seu todo, e não apenas a escola. Na verdade, a escola não cria os problemas sociais, importa-os, pelo que, por si só, também não pode resolver todos os problemas que nela desaguam. As soluções são necessariamente multifuncionais (passando também pelos recursos económicos, sociais e relacionais) e o sistema educativo só pode dar o seu contributo.

 
Como?

 
Os professores de cada escola, de cada grupo disciplinar, de cada conselho de turma, devem agrupar-se em torno de consensos. De contrário, pode haver instrução, mas não haverá educação. Deverão definir-se regras que todos - mas absolutamente todos - cumpram. Assim, não haverá lugar a desatorizações e os alunos saberão com o que podem contar, não tendo de "dançar conforme a música" (uma música muito pouco harmónica, adivinha-se). O que se pretende do projeto educativo, do conjunto de docentes da escola e dos professores do conselho de turma é uma ação coerente e consistente, em torno de uma cultura comum, sem individualismo e sem protagonismos (isto já estava escrito no nosso projeto educativo, lembram-se?). A indisciplina (isto é, tudo o que não é funcional) não é um problema de cada docente, no sentido em que resulta da ausência de padrões e referências dos jovens em causa. A vantagem acrescida desta "concertação educativa", ou "pacto de regime", é que as relações de poder se alteram, deixando os alunos de poder manipular os professores.

Quanto à parte terapêutica, foi-nos dito, claramente dito, que (desde que salvaguardados os nossos deveres de professores), DEVEMOS IR PARA CASA DESCANSADOS. DEVEMOS DORMIR TRANQUILOS, SEM FICAR A MAGICAR NOS PROBLEMAS DOS ALUNOS QUE NÃO CONSEGUIMOS RESOLVER. Devemos abandonar a utopia (de que eu também comungo, digo, comunguei) de que a escola pode resolver todos os problemas da sociedade. Apesar de ser uma instituição especial (não é a praia, não é a esplanada), com regras especiais, é apenas uma das muitas instâncias sociais.

E agora, perguntar-me-ão: «Mas, e o título? porquê conflito versus cooperação? Já percebemos que deve haver cooperação entre os professores, mas, e quanto aos alunos?" De acordo com  Carlos Gomes, deve haver uma relação aberta e descontraída, dialogante, isenta de autoritarismo, mas onde os limites devem ser claramente estipulados e observados. Os professores trabalham para os alunos, estão do lado deles, e os alunos cumprem os seus deveres. Sem dramas.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

"A Festa de Babette" em filme

"A Festa de Babette" em filme

Karen Blixen, uma mulher fascinante


KAREN BLIXEN

Rungstdlund - Dinamarca, 1885-1962

«Karen Dinesen, por casamento Blixen, conhecida mundialmente por Karen Blixen, nasceu em Rungstedlund (Dinamarca), no seio de uma família aristocrata e rica, em 17 de Abril de 1885. A mãe foi a primeira norueguesa eleita para o Parlamento. Aos 10 anos o pai de Karen, militar, escritor e desportista, suicida-se provavelmente na sequência de ter contraído a sífilis, uma doença quase tão grave como hoje a Sida. Karen teve uma educação primorosa, ligada às artes, e aos 22 anos começa a publicar pequenas histórias. Sabe-se que Karen teve irmãs, que com ela estudaram francês, na Suiça. Aos 28 anos casa com o Barão Bror von Blixen-Finecke e partem para África, onde Karen vai gerir uma plantação de café perto de Nairobi.

 


Com o início da Grande Guerra, em 1914, aquela parte de África ficou sob domínio da Grã-Bretanha. Em 1915, Karen regressa à Dinamarca para se tratar da sífilis, contraída pelo contacto com o marido. O homem da sua vida, Denys Finch Hatton (1887 – 1931), conheceu-o aos 30 anos. Em 1925, Karen está divorciada do marido e vai viver um ano na sua casa da Dinamarca. Embora tenha redigido esporadicamente para jornais dinamarqueses, foi com “Gotic Tales” (1934), que escreveu em inglês sob o pseudónimo de Isak Dinesen, que realmente iniciou a sua carreira literária. O interesse de Karen por África começou meramente pelo gosto dos safaris, desporto da moda, para gente rica, durante o século XIX e parte do séc. XX, quando as mentalidades achavam normal matar animais por prazer e fretar africanos para lhe fazer todos os trabalhos que os brancos, como colonos, não faziam. Quando Karen publica, em 1938, o seu mais conhecido romance “Out of Africa” (traduzido para português como África Minha) é já uma mulher com larga experiência de convívio com africanos. O livro é autobiográfico e viria a ser adaptado, com enorme sucesso, ao cinema. Muitos dos seus livros posteriores foram publicados simultaneamente em inglês e em dinamarquês. Ehrengarda, a Ninfa do Lago (1963), foi publicado no ano seguinte à morte de Karen Blixen, ocorrida em 1962.»

(lido em http://www.leme.pt/biografias/dinamarca/letras/karen.html, 11/4/2012)


À direita, numa recepção com os escritores Arthur Miller e Carson McCullers e a actriz Marylin Monroe

 

Meryl Streep interpretando a baronesa Blixen no filme "África minha"

Comunidade de leitores - sessão dois

Tal como combinado, fizemos a sessão dois da Comunidade de leitores, onde - misteriosamente - apareceu um jornalista de O Vilaverdense, que nos tirou esta fotografia (logo desta vez, que abandonámos os sofás e estávamos com um ar mais ... institucional).


O que a fotografia não mostra - para além do debate acerca de Na praia de Chesil de Ian Mc Ewan, que suscitou muito interesse, é a parte do lanche. A Isabel Costa fez um bolo divinal (não estou a exagerar. Penso que se chama "da paixão" por isso mesmo. Espero que seja essa a receita que a Isabel vai pôr no nosso livro de receitas comemorativo) e a Helena Balreira fez uns biscoitos que eu comi com tal entusiasmo que nem jantei. Não sei se foi por isso, mas a verdade é que acabámos por escolher uma novela de Karen Blixen intitulada A festa de Babette. Os interessados poderão levantar um exemplar aqui na Biblioteca. Uma vez que uma das temáticas mais importante é a comida (talvez por ter sofrido de anorexia, Karen Blixen compraz-se na descrição de um jantar divinal), decidimos fazer a sessão três no dia 20 de Abril num restaurante em Braga, às 20h30m. As inscrições abrem hoje à tarde na sala de professores.