Há uns anos, pessoas que se cumprimentavam com dois beijinhos (num movimento que ia da esquerda para a direita) passaram, subitamente, a dar apenas um beijo.
Pensando no assunto, achei que tinha lógica (um é o suficiente e evitam-se hálitos menos frequentáveis).
No entanto, dado que:
1) sou um tanto conservadora;
2) o "um beijinho só" vinha envolto num halo de elegância (para não dizer "vontade de se distinguir dos demais", vulgo "arrogância");
3) gosto de ser fiel a mim mesma
- decidi manter os dois beijinhos da (minha) praxe.
Claro que isso me valeu alguns movimentos em falso, de cara ao dependuro. Até ter decorado quem dava só um. Era fácil: um tio meu que SEMPRE o fez e uma escassa meia dúzia de amigos. E ainda, em pessoas "do sul", o comentário pseudo-explicativo: "Ah, pois, é um hábito cá do Norte".
"Mais um episódio da longa e caricata lista da «snobeira» à portuguesa", pensava eu, desmontando com maior ou menor mestria o argumento.
Mas agora sou eu própria que venho defender, tal como os reitores das Universidades portuguesas, o "zero beijinhos", a vénia ou o sorriso. Inicialmente, pensei: "Como os japoneses". Depois, lembrei-me que pratico a vénia e o sorriso, sem qualquer constrangimento, com os meus vizinhos (mudei-me recentemente para esta zona) ou com conhecimentos superficiais.
Vai custar-nos muito, a nós, tão mediterrânicos, tão exuberantes, tão beijoqueiros, a habituar-nos a este cenário de crise. Mas, como dizia o outro senhor, "é a vida".