sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Hades

Estes alunos que nos surpreendem
Imaginem um dia triste de Outono. Às dezassete horas, em Vila Verde, já começa a ficar escuro. Está um frio desagradável, e ainda não nos mentalizámos para os casacos compridos.
Imaginem uma professora, já veterana, que passou a manhã em casa, a trabalhar "para a escola". Entrou às 13h25, "deu" um bloco de noventa, "deu" outro bloco noventa e "entra" agora no terceiro.
Imaginem uma turma que "teve" aulas de Biologia, Geologia e Físico-Química das 8h25m às 13h25m, fez uma pausa para o almoço, recomeçou às 15h10m com Filosofia e inicia agora o quinto turno de noventa minutos do dia.
Imaginem a luz verde, um pouco hostil, que nos acolhe (?) no bloco C. Brrrrr...
Imaginem uma sala virada a norte, com uma luminosidade ainda mais reduzida pelo facto de o edifício ter sido construído a poucos metros de distância do bloco A.
Imaginem o início da aula: os alunos sentam-se, fazem algum barulho. A professora abre o livro de ponto, escreve o sumário, faz a chamada. Circula, certifica-se que todos - mesmo todos - o transcrevem nos cadernos. Observa os mais lentos. Talvez os compreenda. Talvez se sinta também um pouco dormente.
Imaginem uma aula um pouco diferente: nesse dia, é a professora que se senta lá atrás e os alunos que ocupam o espaço frente ao quadro. Vão ler um conto de Luísa Costa Gomes. Cada um vai desempenhar um papel.
E, de repente... de repente, a sala C11 é o Aquário Vasco da Gama, as gateiras são aquários, os livros são peixes. Como por magia, aparecem ali as figuras, as vozes de toda uma família: a mãe, atenta e vigilante, é maravilhosa. Tem uma espantosa pronúncia do Norte. É forte e enérgica. O pai... bem, o pai tem uma capacidade de observação notável, um sentido de humor irresistível. Mas o nosso pai, o nosso, é ainda melhor. Tantas vezes quantas lê o texto, tantos improvisos. Choramos de riso, rimos de empatia. O filho, o Rodrigo Tiago, entusiasma-se - e nós com ele. E depois há o Rolando Bruno, esse Rolando Bruno que somos todos nós, que às vezes nos distanciamos, nos exasperamos com aquilo que também somos.
Já teríamos reparado como Luísa Costa Gomes consegue criticar sem se distanciar? Se não tivéssemos, o João, a Ana Francisca, a Lígia, a Luísa (e tantos outros) obrigar-nos-iam a recordá-lo, a pensar que eles são gente como nós, simples, engraçada e capaz de maravilhamento. "Hades, hades", pensa a professora, "Ainda hades ouvir falar deles". Ainda havemos de ouvir falar deles. Ainda nos havemos de lembrar desse fim de tarde soturno, esverdeado como a água dos aquários, em Vila Verde.

O dia em que o 1oº D foi à Biblioteca multiplicar os peixes e em que o 9º A e o 9º C foram ao Aquário Vasco da Gama sem sair de Vila Verde.

1 comentário:

  1. bem... a "stora" tava mesmo inspirada quando retratou aqui o acontecimento. mas aposto que o primeiro post que a professora escreveu estava melhor.
    os primeiros improvisos são sempre os melhores (atenção, não estou a dizer que este está mal). temos de continuar a fazer isto. já sinto falta de estar aos berros na sala a dizer ao rolando bruno para levantar os pés! viva o 10ºD!

    Francisca

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